Realização: A Casa Frida & Confraria das Lagartixas
Quinta Parte da Leitura do Livro "O Amor nos Tempos do Cólera" de Gabriel García Márques
Como acompanhar a nossa ciranda com a leitura
Parágrafo Inicial:
“Por ocasião das festividades do novo século houve um animado programa de atos públicos, o mais memorável dos quais foi a primeira viagem em balão, fruto da iniciativa inesgotável do doutor Juvenal Urbino.” (Na Record, tradução de Antônio Callado, inicia na página 279)
Parágrafo final:
“Segunda-feira, no entanto, ao chegar à sua casa da Rua das Janelas, deparou com uma carta que boiava na água empoçada dentro do saguão, e reconheceu de pronto no envelope molhado a caligrafia imperiosa que tantas mudanças da vida não tinham conseguido mudar, e até julgou perceber o perfume noturno das gardênias murchas, porque o coração já lhe dissera tudo desde o primeiro assombro: era a carta que tinha esperado, sem um instante de sossego, durante mais de meio século."
(Na Record, tradução de Antônio Callado, vai até a página 343)
Para nossa próxima travessia literária, estipulamos o valor mínimo de R$ 20 por encontro, como forma de contribuição simbólica. Para cobrir custos com marketing e divulgação, aluguel da sala digital, além da curadoria da Confraria das Lagartixas e da A Casa Frida.
Existe beleza na Finitude
"Solitário entre a multidão do cais, dissera a si mesmo com um toque de raiva: 'O coração tem mais quartos que uma pensão de putas'."
“Tinham sido apanhados de supetão no repouso da maturidade, quando já se sentiam a salvo de qualquer emboscada da adversidade, com os filhos grandes e bem criados, e com o futuro aberto para que aprendessem a ser velhos sem azedumes.”
"Jamais imaginara que se pudesse sofrer tanto por algo que parecia ser o exato contrário do amor, mas nisso caíra, e resolveu que o único recurso para não morrer disso era tocar fogo no ninho de víboras que lhe empeçonhava as entranhas."
"Certa ocasião, ele recém-casado, um amigo lhe dissera na frente da mulher que mais cedo ou mais tarde teria que se haver com uma paixão enlouquecedora, capaz de pôr em risco a estabilidade do seu casamento. Ele, que julgava conhecer-se a si mesmo, que conhecia a fortaleza de suas raízes morais, rira do prognóstico."
“Estendida na cama de linho, com uma tênue combinação de seda, a senhorita Lynch era de uma beleza interminável. Tudo nela era grande e intenso: suas coxas de sereia, a pele a fogo brando, os seios atônitos, as gengivas diáfanas de dentes perfeitos, e todo seu corpo irradiava um vapor de boa saúde que era o cheiro humano que Fermina Daza encontrava na roupa do marido. Tinha ido à consulta externa porque sofria de algo que chamava com muita graça cólicas torcidas, e o doutor Urbino achava que era um sintoma que não se devia encarar com ligeireza. De maneira que apalpou seus órgãos internos com mais intenção do que atenção, e enquanto isso ia esquecendo a própria sabedoria e descobrindo assombrado que aquela criatura de maravilha era tão bela por dentro quanto por fora, e então se abandonou às delícias do tato, já não como o médico mais qualificado do litoral caribe, e sim como um pobre homem de Deus atormentado pela desordem dos instintos.”
“Ela ficava em jejum, mal entrando em seu túnel de solidão, quando ele já se abotoava de novo, exausto, como se tivesse feito o amor absoluto na linha divisória entre a vida e a morte, quando na realidade se limitara a fazer aquilo que o ato amoroso tem de façanha física. Mas estava em sua lei: o tempo justo para aplicar uma injeção endovenosa num tratamento de rotina. Então voltava a casa envergonhado de sua debilidade, com vontade de morrer, maldizendo-se por não ter a coragem de pedir a Fermina Daza que lhe arriasse as calças e o sentasse de bunda num braseiro.”
“E então ele contou tudo, sentindo que tirava de cima de si o peso do mundo, porque estava convencido de que ela sabia e só lhe faltava confirmar os pormenores. Mas não era assim, é claro, de maneira que enquanto ele falava ela voltou a chorar, não com soluços tímidos como no começo, e sim com umas lágrimas soltas e salobras que lhe escorriam pelo rosto, e lhe ardiam na camisola e lhe inflamavam a vida, porque ele não tinha feito o que ela esperava com a alma por um fio, e era que ele negasse tudo até a morte, que se indignasse com a calúnia, que cagasse aos gritos nesta sociedade filha de mãe ordinária que não tinha o menor escrúpulo em pisotear a honra alheia, e que se mantivesse imperturbável mesmo diante de provas as mais demolidoras da sua deslealdade como um homem.”
“Até então, sua grande batalha, travada de peito aberto e perdida sem glória, tinha sido a da calvície. Desde que viu os primeiros cabelos que ficavam emaranhados no pente, percebeu que estava condenado a um inferno cujo suplício escapa à imaginação dos que dele não padecem. Resistiu durante anos. Não houve glostoras nem loções que não experimentasse, nem crendice em que não cresse, nem sacrifício que não suportasse para defender da devastação voraz cada polegada da cabeça. Decorou as instruções do Almanaque Bristol para a agricultura, por ouvir alguém dizer que o crescimento do cabelo tinha relação direta com os ciclos das colheitas. Abandonou seu barbeiro de toda a vida, um calvo extremado, e adotou um forasteiro recém-chegado que só cortava cabelo quando a lua entrava em quarto crescente. O novo barbeiro começara a demonstrar que na realidade tinha a mão fértil, quando se descobriu que era um estuprador de noviças procurado por várias polícias das Antilhas, e o carregaram arrastando correntes.
Florentino Ariza tinha recortado nessas alturas todos os anúncios para calvos que encontrou nos jornais da bacia do Caribe, nos quais saíam os dois retratos juntos do mesmo homem, primeiro pelado como um melão e depois mais peludo que um leão: antes e depois de usar o remédio infalível. No fim de seis anos tinha experimentado cento e setenta e dois, além de outros métodos complementares que apareciam no rótulo dos vidros, e a única coisa que conseguiu com um deles foi um eczema do crânio, urticante e fétido, chamado tinha boreal pelos santarrões da Martinica, porque irradiava um resplendor fosforescente na escuridão.”
“A perda dos dentes, em compensação, não tinha sido uma calamidade natural, e sim fruto da incompetência de um dentista ambulante que resolveu aplicar remédios heróicos a uma infecção ordinária. O horror às brocas de pedal tinha impedido Florentino Ariza de visitar o dentista apesar de suas continuas dores de dente, até que não pôde mais suportá-las. Sua mãe se assustou ao ouvir a noite in-feira as queixas inconsoláveis no quarto pegado, porque achou que eram as mesmas de outros tempos já quase esfumados nas névoas de sua memória, mas quando o fez abrir a boca para ver onde é que o amor doía, descobriu que estava cheio de postemas.
Tio Leão XII mandou-o ao doutor Francis Adonay, um gigante negro de polainas e culotes de montar que andava nos navios fluviais com um gabinete dentário completo dentro de uns alforjes de capataz, e mais parecia um caixeiro viajante do terror nos povoados do rio. Com um único olhar dentro da boca, determinou que era preciso tirar de Florentino Ariza até os dentes bons, para pô-lo de uma vez a salvo de novos percalços. Ao contrário da calvície, aquela cura de burro não lhe deu nenhuma preocupação, salvo o temor natural do massacre sem anestesia. Tampouco lhe desgostou a idéia da dentadura postiça, primeiro porque uma das nostalgias da sua infância era a lembrança de um mágico de feira que arrancava de si as duas mandibu-las e as deixava falando sozinhas numa mesa, e segundo porque punha fim às dores de dente que o haviam atormentado desde menino, quase tanto e com tanta crueldade quanto as dores de amor. Não lhe pareceu um golpe manhoso da velhice, como havia de lhe parecer a calvície, porque estava convencido de que, apesar do odor acre da borracha vulcanizada, sua aparência seria mais limpa com um sorriso ortopédico.”
Irving Penn foi um fotógrafo norte-americano que começou a sua carreira em meados da década de 1940. Três anos mais tarde, começou a fazer trabalhos para a revista Vogue, onde trabalhou por muitas décadas.
Penn começou a fotografar flores em 1967, para ilustrar a edição de Natal da Vogue com imagens de tulipas.
Esta se tornou a primeira de sete edições que Penn ilustraria com diferentes gêneros de flores. As fotografias foram publicadas no livro 'Flowers', em 1980.
Em seu ensaio, Pen retrata com uma beleza inigualável o processo de envelhecimento.
Em 7 de outubro de 2009 Irving Penn morreu em sua casa em Nova Iorque aos 92 anos.
Galeria Irving Penn: https://www.hamiltonsgallery.com/artists/27-irving-penn/series/selected-works/
A retrospectiva em homenagem aos 100 anos de nascimento do fotógrafo norte-americano Irving Penn apresentou, nas galerias 2 e 3 do IMS Paulista, mais de 230 fotografias concebidas ao longo de quase 70 anos de carreira, além de cerca de 20 periódicos.
Foram exibidas suas fotografias de alta-costura, trabalhos iniciais em Nova York, América do Sul e México, retratos de povos indígenas de Cusco, no Peru, e retratos de figuras como Truman Capote, Picasso e Joan Didion. Organizada pelo The Metropolitan Museum of Art, em colaboração com a Fundação Irving Penn. A itinerância internacional foi possível graças ao apoio da Terra Foundation for American Art.
“- A única frustração que levo desta vida é a de ter cantado em tantos enterros, menos no meu.
Para fechar o ato, cantou a ária E Lucevan le Stellat da Tosca. Cantou a capella, como gostava mais, e ainda com voz firme. Florentino Ariza se comoveu, o que apenas deixou transparecer no tremor da voz com que apresentou seus agradecimentos. Tal como tinha feito e pensado tudo que tinha feito e pensado na vida, chegava ao cume sem qualquer causa que não fosse a determinação encarniçada de estar vivo e em bom estado de saúde no momento de assumir seu destino à sombra de Fermina Daza.”
E lucevan le stelle é uma ária do terceiro ato da ópera Tosca, de Giacomo Puccini, com libreto de Luigi Illica e Giuseppe Giacosa. Estreou no Teatro Costanzi de Roma, em 14 de janeiro de 1900. A ária é cantada pelo personagem Mario Cavaradossi, enquanto aguardava sua execução.
Filme | O Amor nos Tempos do Cólera (Mike Newell) - Sequência 05
Ouça a Playlist, clicando aqui.
por Ana Cristina Cunha
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Quando?
28/09/23 - Ciranda de Leitura | EP.05
Roda de conversa on-line: das 19h30 às 21h
Onde?
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Olá! Começo, claro, parabenizando e agradecendo pelas fabulosas contribuições! Tenho assistido as discussões que me enriquecem demais! Tanto os filmes quanto os textos são de uma primorosa, delicada e assertiva escolha! além do prazer em apreciar , provocam muitas reflexões e viagens por sentimentos, historias, conhecimentos, ...enfim nos apresentam e nos faz mergulhar em Arte no amplo e rico sentido da palavra!