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23/05/24 - EP:03 Ciranda de Leitura - Dom Casmurro de Machado de Assis

Atualizado: 22 de abr.

Realização: A Casa Frida & Confraria das Lagartixas


23/05/24 - 19h30 - via Zoom

Penúltima quinta-feira do mês.





Terceira Parte da Leitura do Livro "Dom Casmurro" de Machado de Assis


Como acompanhar a nossa ciranda com a leitura


Encontro 3:

Cap 76 ao 113

Cap LXXVI ao CXIII


Parágrafo Inicial:

"EXPLICAÇÃO

Ao fim de algum tempo, estava sossegado, mas abatido. Como me achasse

estirado na cama, com os olhos no tecto, lembrou-me a recomendação que minha

mãe fazia de me não deitar depois do jantar para evitar alguma congestão. Ergui-me

de golpe, mas não saí do quarto. Capitu ria agora menos e falava mais baixo; estaria

aflita E com a minha reclusão, mas nem por isso me abalou."


Parágrafo final:

“—A cunhadinha está tão doente como você ou eu. Vamos aos embargos."



Dom Casmurro - Encontro 3 (Cap 76 ao 113)
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Dalton Paula - artista visual


As inúmeras possibilidades de interpretação

Camilla Dias, nos proporciona uma nova perspectiva da obra, através da apresentação do livro editado pela editora Antofágica e ilustrado por Paula Sierra.


"Meu primeiro contato com Machado de Assis foi no ensino médio, com o livro Memórias póstumas de Brás Cubas. Naquele momento eu não me considerava uma leitora sensível o suficiente para absorver os escritos de um autor tão aclamado - acho que isso pode ser traduzido como 'medo dos clássicos'.


Mal sabia eu o quanto esse clássico conversa de igual para igual com o povo brasileiro. Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 1839, filho de uma lavadeira e de um pintor de paredes. Pobre, negro, com saúde frágil, epilético e gago. O que poderíamos esperar para seu futuro? Ninguém contava que ele seria um dos escritores mais famosos da história da literatura brasileira.


Foi só depois de muitos anos que me senti apta a ler e compreender os feitos literários desse escritor negro-brasileiro que, em função da estrutura racista e do processo de embranquecimento pelo qual passou a sociedade brasileira, teve sua origem negra encoberta por muitos, inclusive pela minha professora de língua portuguesa da escola.


Descobrir o Machado-negro me colocou num outro lugar como leitora, motivou meu interesse. Ao contrário do que muitos pensam, não temos representação na literatura apenas quando encontramos personagens com os mesmos fenótipos, mas também quando quem os constroem é preto como quem lê.


Proponho um exercício para você, leitor. Pensando em todas as adversidades que o escritor enfrentou em sua vida e tendo em mente a sociedade brasileira estruturalmente racista, discriminatória e preconceituosa, tente imaginar quantos Machados não temos por aí, produzindo textos potentes, com qualidade ímpar. Com certeza teríamos gratas surpresas se nos permitíssemos o contato com estes artistas.


A inteligência e a genialidade de Machado são inegáveis. O que me chama mais atenção no seu fazer literário é o olhar aprofundado para o psicológico nas construções dos personagens, além do humor ácido e pessimista que o torna único como escritor.


Dom Casmurro, publicado pela primeira vez em 1899, apresentará a você o personagem Bentinho, suas fabulações e ironias. Num texto cheio de idas e vindas, o escritor consegue desfazer qualquer certeza que tenhamos sobre fatos e acontecimentos.


A narrativa em primeira pessoa nos permite observar o mundo apenas pelo olhar de Bentinho; é através dele que ficaremos a par do suposto triângulo amoroso com Capitu e Escobar.


Uma pergunta que costuma ressoar ao fim da leitura é: Capitu traiu Bentinho? Porém, há ainda outras perguntas e inquietações que esse livro desperta. Por exemplo, sugiro uma atenção maior ao desenvolvimento dos personagens Bentinho e Escobar, à amizade e ao afeto que nutrem um pelo outro.


Machado brinca com nossa imaginação e deixa o final da trama aberto para que nós decidamos (ou julguemos), a partir das pistas, provas e contraprovas contidas no texto, o melhor fechamento para a história dos três personagens. O resultado não é fácil e não há quem possa chegar a uma resposta categórica, sem deixar aquele restinho de dúvida."


Camilla Dias, produtora de conteúdo independente no Instagram. Assistente social, mediadora de leitura e pós-graduada em Docência em Literatura e Humanidades.


 


Antônio Karnewale como José Dias (Mini Série Capitu - Rede Globo)



O Agregado


Esse José Dias, uma das grandes criações machadianas, apresenta certa obscuridade para o leitor de hoje, especialmente o leitor das classes médias modernas.


Não sendo parente, a José Dias falta também alguma inserção mais nítida, a ponto de o leitor atual poder perguntar-se afinal o que faz o homem ali. Pode-se ler o texto de começo a fim, e de fim a começo, e nada é tão claro, de fato.


José Dias um tanto parece ser confidente de dona Glória, mas também tem tarefas como tutor, professor vivendo em casa, à maneira dos antigos preceptores de nobres europeus.


Mas será esse seu trabalho? Ele ganha salário por isso?


Nessa capa de relativa obscuridade se cifra uma parte importante do tipo de realismo que Machado pratica: ele teve o discernimento de trazer para dentro de sua ficção, nesse caso em lugar próximo ao centro do enredo, o tipo social do agregado, figura encontrável numa estrutura social senhorial, espécie de mandalete de luxo, mas também interlocutor e mediador.


E nosso José Dias é excepcionalmente interessante: é puxa-saco, mas discreto o suficiente para não ser inconveniente; ajuda a dar conselhos (e aliás é uma espécie de frasista, em busca do efeito, do brilho breve da sentença bem colocada), sobretudo aos que estejam circunstancialmente por baixo, mas nunca a ponto de ousar ter e desenvolver alguma ideia própria, muito menos de sair do círculo estrito das determinações morais e ideológicas da estrutura de que depende; pode ser um aliado ou um inimigo conforme as opções do momento e a depender de quem for necessário bajular.


Em passagem sempre lembrada para definir a visão de Bento sobre nosso José Dias, a narração o descreve de modo impiedoso: "Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagar arrastado dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da consequência, a consequência antes da conclusão" (capítulo IV). Assim também no capítulo seguinte, quando se lembra de que ele "não abusava, e sabia opinar obedecendo".


O agregado não produz nada em termos diretamente econômicos, mas ajuda a manter certa modalidade de vida em andamento, a modalidade senhorial, cortesã.


Luís Augusto Fischer

Escritor, ensaísta e professor brasileiro.


 


"A Carolina”

Machado de Assis


Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.


Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda humana lida,

Fez a nossa existência apetecida

E num recanto pôs um mundo inteiro.


Trago-te flores, - restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

E ora mortos nos deixa separados.


Que eu, se tenho nos olhos malferidos

Pensamentos de vida formulados,

São pensamentos idos e vividos.


 

O soneto, intitulado "A Carolina", faz parte do livro "Relíquias de Casa Velha", publicado em 1906, e foi o último escrito pelo autor. O também escritor Manuel Bandeira destacou este poema como uma das peças mais comoventes da literatura brasileira, de acordo com o

"Almanaque Machado de Assis".


O livro "Toda Poesia de Machado de Assis", de Cláudio Murilo Leal, que reúne pela primeira

vez toda a obra poética de Machado de Assis, apresenta o poema e traz uma breve análise.


Carolina Augusta Xavier de Novaes e Joaquim Maria Machado de Assis casaram-se no dia 12

de novembro de 1869 e viveram uma plácida e amorosa vida conjugal durante 35 anos. A morte da esposa, em 1904, deixa Machado abatido e queixoso. Em carta a Joaquim Nabuco, datada de 20 de novembro do mesmo ano, escreve, lamentando-se: "Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo."


Em 1906, depois de terem sido publicadas as Poesias completas, o poeta escreve seu mais

pessoal e profundamente sofrido poema, um verdadeiro réquiem, intitulado "A Carolina".

Talvez, para não demonstrar vestígios de um sentimentalismo piegas, Machado elege uma

forma poética que reverencia também, sutilmente, o tom e a textura camonianos. Essa

aproximação estilística à linguagem castiça, que renova, mais do que copia, no século XX, o

sabor do verso quinhentista, foi observada por J. Mattoso Câmara, no ensaio "Um soneto de Machado de Assis".


Colaboração de Ana Dagnino


 


Minissérie | Capitu (Luiz Fernando Carvalho) Globo - Sequência 03



 




Ouça a Playlist da minisérie Capitu, clicando aqui. 



 

Ciranda de Leitura - Introdução ao livro Dom Casmurro de Machado de Assis



 

COMO PARTICIPAR?


Para nossa próxima travessia literária, estipulamos o valor mínimo de R$ 20 por encontro, como forma de contribuição simbólica. Para cobrir custos com marketing e divulgação, aluguel da sala digital, além da curadoria da Confraria das Lagartixas e da A Casa Frida.

Selecione o valor de sua assinatura mensal de contribuição abaixo.

Basta realizar o cadastro uma vez que a recorrência do pagamento será mensal.






O link de acesso ao Zoom será enviado por e-mail de cadastro na data do encontro.

 


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