top of page
Foto do escritorConfraria das Lagartixas

18/05/23 - Ciranda de Leitura do Livro "O Amor nos Tempos do Cólera" de Gabriel García Márquez

Atualizado: 4 de mai. de 2023

Realização: A Casa Frida & Confraria das Lagartixas



Para nossa próxima travessia literária, estipulamos o valor mínimo de R$ 20 por encontro, como forma de contribuição simbólica. Para cobrir custos com marketing e divulgação, aluguel da sala digital, além da curadoria da Confraria das Lagartixas e da A Casa Frida.



Vamos juntos celebrar o Amor!


“Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a este artifício conseguimos suportar o passado”. (Gabriel García Márquez - O Amor nos tempos do Cólera)

Ele a esperou por 53 anos, 7 meses e 11 dias com suas respectivas noites.


Nesta quarta ciranda, adentramos na história de amor de Florentino Ariza e Fermina Daza, uma experiência literária sobre a espera e a esperança.


O livro foi escrito em 1985 e hoje, depois de 36 anos, em um cenário pós pandemia, vivemos acelerados e com excessos. Observamos a rapidez da evolução virtual com a criação de avatares e inteligência artificial que realiza tarefa humanas em segundos. Passamos de sujeitos a usuários, sendo emissores e receptores de estímulos sensoriais e imagéticos, alimentados ou devorados pelas redes sociais.


As rotinas estão cada vez mais atribuladas e a sensação de cansaço prevalece. Nunca o ideal narcísico obteve tamanha visibilidade. A intolerância, as polaridades e a cultura do cancelamento estão presentes nos discursos e atitudes diárias. Discursos esses que são vociferados e mais distanciam do que aproximam. Vivemos em um excesso de informações, ocupando diferentes lugares ao mesmo tempo, permanentemente bombardeados por notificações no celular. Não por acaso, o grande ganhador do Oscar de 2023 foi o filme “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”. Como o próprio título sugere, estamos saltando em diversas realidades paralelas todos os dias e de diferentes formas. Tantas mudanças geraram dificuldades para fazermos laços com o outro, prejudicando os vínculos. Mas Florentino permanece acreditando no amor, vivendo seu sonho de um dia concretizá-lo. Ele a espera não de maneira passiva, mas com a esperança de um dia terem o reencontro.


O psicanalista francês, Lacan, discorre sobre a temporalidade.

Há três momentos fundamentais: o tempo de observar, o tempo de elaborar e o tempo de agir. Diante da aceleração cultural, esse segundo tempo é eliminado, passando do instante de observar para o momento de agir. Como efeito, o tempo de elaborar ou compreender fica em suspenso, atropelado pela atual urgência de respostas. “É na ausência que aprendemos a simbolizar para representar o que não está presente.”


Pensemos na “sala de espera” dos consultórios de psicanálise. Neste momento em que o paciente aguarda ser chamado para a sessão, há uma janela de espera entre o chegar e agir, ou seja, ele já começa a elaborar o que irá compartilhar enquanto aguarda pacientemente sua vez.


No romance, a espera pelo amor chega ao fim depois de muito tempo. É a metáfora do próprio amor, que não acontece de forma imediata, mas é construído, cultivado, demandando empenho, estratégia, audácia e um grau elevado de investimento emocional. Para amar o sujeito, é preciso dedicar parte do seu narcisismo ao outro. Ou seja, amar proporciona a saída do encapsulamento narcísico para o vínculo com a alteridade, com aquele que amo e que é diferente de mim.


Outro tema que o livro aborda é o envelhecimento. Os protagonistas se reencontram quando Fermina está com 72 anos e Florentino com 78. É a partir dessa “terceira” idade que se reinicia o primeiro amor. Na contramão do conceito de envelhecer dos dias de hoje, os protagonistas do livro se aproximam da morte, sim, mas com grande vitalidade, embarcando em um navio para iniciar uma travessia rumo à terceira margem do rio.


A experiência de ler “O amor nos tempos do cólera”, de Gabriel Garcia Márquez,

é um ato de resistência contra o tempo acelerado e as patologias narcísicas. Essa ciranda é um convite para o desacelerar.


Quando o mundo parece fechado para o amor, abrimos esse livro para voltarmos a acreditar que ele está aí, esperando quem se dispuser a criar novos espaços.


“A espera só é possível quando há esperança.”


Por Carla Belintani


Referências bibliográficas:


FAZZIO, Fernanda. A espera na "Era da pre(s)sa". J. psicanal. [online]. 2020, vol.53, n.98 [citado  2023-04-11], pp. 95-106 . Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352020000100008


GURFINKEL, Decio. Espera, esperança e sonho: deixar a terra descansar. Rev. bras. psicanál [online]. 2016, vol.50, n.4, pp. 39-48. ISSN 0486-641X.

Disponível em:


Lacan, J. (1998). O tempo lógico e a asserção de certeza antecipada. In J. Lacan, Escritos (pp. 197- 213). Jorge Zahar. (Tabalho original publicado em 1945)



É tempo de se falar de amores na obra de García Márquez | por Joana Rodrigues


Vamos começar com uma novidade, o romance em que o amor flui de muitas formas: alegre, melancólico, enriquecedor, mas sempre surpreendente - tem uma versão ilustrada assinada pela artista plástica Luisa Rivera. Confira aqui.


Caro (a) leitor (a),

É chegada a hora de adentramos neste que é o sétimo romance de García Márquez, publicado em 1985, três anos depois do escritor colombiano ter recebido o prêmio Nobel de Literatura, cuja cerimônia de entrega tem muito a nos dizer sobre a postura cultural e política de Gabo e que resultou em uma das peças literárias mais expressivas (e bonitas) da literatura mundial, que é justamente o discurso proferido pelo autor, A solidão da América Latina (que pode ser acessado nesse link na versão espanhola: https://cvc.cervantes.es/actcult/garcia_marquez/audios/gm_nobel.htm e em português https://www.cadaminuto.com.br/noticia/2020/06/08/o-discurso-de-gabriel-garcia-marquez-ao-receber-o-nobel)


Entremos então no romance que teve a tradução para o português de Antonio Callado, jornalista, romancista, biógrafo e dramaturgo, um dos grandes escritores brasileiros e talvez o que mais tenha combatido a ditadura militar. Autor de obras geniais como Quarup (1967), Bar Don Juan (1971), Reflexos do baile (1976), Sempreviva (1981) entre outras.


O amor nos tempos do cólera nos conta uma história permeada por amores, e tem no triângulo, Juvenal Urbino, Fermina Daza, e Florentino Ariza o núcleo central de outras histórias que vão se desenvolvendo entre eles e entre personagens que os rodeiam, que são: a tia de Fermina, Escolástica, seu pai, Lorenzo e a mãe de Florentino, Trânsito.


Desde a juventude até a maturidade, do alto de mais de setenta anos, essas histórias vão se desenvolvendo em um cenário que tem a maior parte dos fatos ocorridos em uma cidade fictícia do Caribe, marcada pela presença do mar. Cenário esse que também ganha novos espaços, como Paris e outras cidades no interior colombiano, com nome e sobrenome, portanto lugares como Valledupar, que lá estão no mapa da Colômbia.


Durante mais de cinquenta anos esses personagens vão, cada um a seu modo e escolha, desenvolvendo suas trajetórias de vida levando adiante questões ligadas aos sentimentos, às maneiras de sobrevivência física, financeira, cultural, política e sobretudo, sentimental. Pois é na intimidade de cada um desses três protagonistas e seus parceiros (as) que vamos acompanhar cenas de amor físico e carnal; de amor idealizado e, portanto imaginado; do dia a dia de suas casas e famílias; do andamento da cidade, com suas autoridades políticas e religiosas; e dos relacionamentos entre as pessoas, no formato de casais amantes, de ligações familiares e de relações entre empregados e empregadores.


Mas também é com muita ironia, contando com uma boa dose de humor ácido e crítico, que vamos conhecer como é um pouco de universo dessas intimidades: no banheiro, na cama, na cozinha, no banco da praça, no camarote de um navio, quando o escritor nos leva para o interior de cada um desses ambientes como se tivesse uma câmera na ponta dos dedos. Como nos mostra esta passagem:


Tio Leão XII tinha um interesse singular pelas dentaduras postiças, contraído numa de suas primeiras navegações pelo rio Madalena, e por culpa de sua dedicação maníaca ao bel canto. Numa noite de lua cheia apostou que era capaz de despertar as criaturas da selva cantando uma romança napolitana do passadiço do comandante. (...) Mas na nota culminante, quando se receou que as artérias do cantor se fossem romper com a potência do canto, a dentadura postiça lhe saltou da boca com o alento final, e afundou nas águas. (p.326)


As imagens ganham vida com a sequência de palavras, que ele escolheu meticulosamente para montar essa história que tem uma marca romântica, sem sair da realidade. Porque é entremeado nos relacionamentos desses três personagens que vamos saber como é a rua, a vila, o bairro, a cidade em que eles vivem. Como as desigualdades das classes sociais, e o receio, e até mesmo o medo de que os relacionamentos clandestinos venham incomodar a vida social de cada um deles, vão aparecendo nas páginas. E como se dão as relações entre amantes e apaixonados.


Portanto se trata de uma história de amores calcada no realismo dos dias do século XX. Por isso, os recursos do realismo mágico, a corrente literária a qual García Márquez continua sendo um dos mais expressivos representantes, não está presente nas quase 500 páginas do romance.


E de que forma podemos então acompanhar essa história de ficção baseada na história de amor dos pais do escritor, o telegrafista Gabriel Eligio García Martínez e a moça, dona de um temperamento altivo e firme, que conseguiu prosseguir seus estudos em um colégio privado e católico concluindo o que seria o Ensino Médio nos dias de hoje, Luísa Santiaga Márquez Iguarán.


Sabe-se por declarações do próprio García Márquez, em algumas entrevistas, que a história de amor dos pais foi atravessada por dificuldades, em particular, por problemas gerados a partir da interferência familiar. Quando os pais, que já se encontravam juntos há 50 anos, Gabo se dispôs a entrevistá-los, da forma mais dedicada e comprometida que ele sempre praticou o jornalismo, e com isso foi tecendo um cruzamento de informações e detalhamentos com muitos familiares e amigos, numa rede impressionante de dados e memórias.


A partir daí cria esta história que, a começar pelo título já nos leva a perguntas: Como assim, um amor nos tempos de uma das doenças mais avassaladoras que as populações, especialmente a dos países mais pobres, incluindo os latino-americanos, enfrentaram. Uma doença que teve no personagem, o médico Juvenal Urbino, um de seus mais fervorosos e dedicados em seu combate.


É ele mesmo, Gabo, que nos dá parte desta resposta. Confiram aqui.


Vale lembrar que a doença causou milhões de mortes desde o século XIX, quando datam de 1817, as primeiras manifestações. E que se sucederam ondas da doença, incluindo países da América Latina, como a Colômbia, o Peru e o Brasil, entre outros. Os sintomas da doença causada pela contaminação da água e da ingestão de alimentos contaminados, são de forma geral, vômitos, diarreia, que começam de repente, acompanhada por febre e fortes dores abdominais. Outros sintomas são irritabilidade, letargia, olhos encovados, boca seca, pele seca e enrugada, pressão arterial baixa e arritmia cardíaca. Ou seja, fazendo uma conferência aqui, se trata dos mesmos sintomas que o apaixonado Florentino vai nos mostrando ao longo do romance.


O amor e essa doença que causou pandemias também pelo mundo afora, ao contaminarem um ser humano, deixa Florentino com os mesmos sintomas? O que então poderíamos refletir sobre essa questão?


Bem, há estudos que reconhecem na figura de Florentino Ariza um Dom Quixote, “um louco, contaminado pelo amor”, há outros que veem nessa história muitos pontos em comum com a vida de García Márquez, a começar pelos nomes dos personagens, pelas cidades em que as cenas acontecem, pela semelhança com parte da sua família.


Há ainda estudos que comentam ser esse um romance de oportunidade ou de possibilidade, igualmente nos indagando, se é possível manter um namoro, um casamento, uma paixão depois dos 70 anos? Ou ainda, vale a pena esperar por mais de 50 anos para viver o grande e único amor? Esse amor carregou consigo muitos sacrifícios? Ou foi levado apenas por outros amores mais fugazes e passageiros?


Os estudos da crítica literária continuam trazendo possibilidades de outras leituras em que se podem enxergar outros caminhos para essas várias histórias de amor, uma que envolve o casal Juvenal e Fermina e outra, que reúne Fermina e Florentino, e as outras tantas mais fugazes.


E aqui, meu caro e minha cara leitora, sua participação é pra lá de importante. Porque agora você já deve estar entrando em um dos elementos de destaque do livro, que é o ato da escrita e da troca de cartas entre o casal Fermina-Florentino. O que dizer desse ato tão bonito e tão delicado, mas acima de tudo dedicado que os dois mantêm ao longo de mais de 50 anos? O que significa/ria para nós, mantermos essa troca de correspondência? E nos tempos atuais, que não são de cólera mas de uma pandemia dupla, no Brasil, em particular, quando enfrentamos o Covid-19 e suas variações, e a crise política. Como será que nos comportaríamos como “escrevedores de cartas”? Será que não fizemos isso, na medida em que ficamos recolhidos em casa, fazendo uso da tecnologia e da internet para nos comunicarmos com os outros? O que representaria essa quantidade de escrita, com tantas citações de outros escritos e escritores, já que Florentino continuou a ser um obsessivo por autores (poetas e prosadores) praticamente desde a infância.


O caminho dos dois casais vai revelando, para nós leitores, muitas coisas de dentro e de fora de quem olha. Casamento, lua de mel, filhos, férias, casa, formas de ganhar a vida. E não deixa de fora as complicações que cada família tem quando não suporta revelar que está enfrentando dificuldades financeiras, por exemplo. Como acontece com o pai de Fermina. Uma figura que vai nos surpreendendo ao tomarmos conhecimento que parecia ser de uma forma mas a vida de Lorenzo era de outra.


E o que dizer dessa dedicação enlouquecida e ou doentia de Florentino por Fermina desde o momento em que a vê, sob cortinas, sem muitas definições, no início de sua longa carreira voltada aos correios e telégrafos no porto da tal cidadezinha.


Acompanhar essas histórias dentro de uma história maior, nos levará a passeios incríveis por cores, sabores, sons, cheiros e imagens. Pois não falta a García Márquez a habilidade de um magnífico narrador. E como tal “nos agarra pelo pescoço” logo nas primeiras frases do primeiro capítulo. E vamos seguindo, sôfregos, página pós página, sem nos preocupar com números de capítulos! Vejam só, que estratégia essa do escritor. Mais um motivo para pensarmos. Por que ser assim, uma narrativa, solta e continuada, sem necessidade de paradas obrigatórias, mas respeitando o leitor e a leitora com o ritmo próprio de cada um.

O romance traz descrições de cenas, de locais e de sentimentos com detalhes que somente o estilo de García Márquez poderia dar conta. São passagens e frases calcadas em pura poesia.


Uns ressentimentos mexeram em outros, reabriram cicatrizes antigas, transformaram-nas em feridas novas, e ambos se assustaram com a comprovação desoladora de que em tantos anos de luta conjugal não tinham feito mais do que pastorear rancores. (p.41)

Antes desfrutou o prazer instantâneo da fragrância de jardim secreto de sua urina purificada pelos suaves aspargos. (p.55)


(...) que ofereciam por baixo do balcão os muitos artifícios equívocos que chegavam de contrabando nos navios da Europa, dos postais obscenos às pomadas tônicas e até aos célebres preservativos catalães com cristas de iguanas que pulsavam quando era o caso, ou com flores na extremidade para que soltassem pétalas de acordo com a vontade do usuário. (p.130)


Não tornou a vê-la nem por acaso pelo resto da sua vida, e só Deus soube quanta dor lhe custou essa resolução, e quantas lágrimas de fel teve que derramar trancado na privada para sobreviver a seu desastre íntimo. (p.307)


E foi o próprio García Márquez que em maio de 1996, respondeu a um jornalista do El País, da Espanha que O amor nos tempos do cólera era seu livro favorito, porque havia dedicado a essa obra, o melhor de sua escrita. “Esse é o melhor, porque esse livro escrevi com minhas entranhas”.


* * *

O sucesso de crítica e de público foi grandioso, tanto que o romance foi eleito como a melhor obra de ficção pelo Los Angeles Times em 1988 e no seguinte foi escolhido como o melhor romance estrangeiro na França, recebendo o Prêmio Gutenberg.

Aqui segue outro link para você acompanhar o que García Márquez comentou sobre o romance. São 10 reflexões do escritor que o Centro Gabo reuniu:


Para saber um pouco mais sobre o escritor colombiano, vale consultar o acervo de 27 mil itens que está reunido nesse Instituto americano e tem acesso gratuito online

Harry Ransom Center, The University of Texas at Austin



1. Una telenovela escrita

Ahora estoy escribiendo una novela, probablemente la más difícil que he escrito. Muy larga, muy complicada y llena de lugares comunes. Es prácticamente una telenovela. Es no tenerle miedo al amor como es en la vida. Uno está acostumbrado al amor como es en los libros, pero no como es en la vida: con todo el sentimentalismo, con toda la cursilería, con todo el sufrimiento, con todas las alegrías.

“García Márquez: el gallo no es más que el gallo”.

Pluma, abril de 1985.


2. Las lecciones de Gustave Flaubert

Cuando me di cuenta de que la novela transcurría en el siglo XIX, tuve la tentación de escribirla como si hubiera sido escrita en el siglo XIX, con las técnicas y estructuras de la novela posromántica, cuyo representante esclarecido es Flaubert. Entonces releí Madame Bovary, que es impresionante, una máquina absolutamente perfecta, sin grietas. Y también La educación sentimental, que me sirvió mucho, pero en sentido negativo. Recordaba que Flaubert no solo contaba allí una historia de amor, sino que hacía una precisa reconstrucción de época. La tenía ambientada en un momento histórico muy particular de Francia, y me interesaba saber cómo se las había arreglado él para hacer lo mismo con mi novela, que ocurre en medio de una situación volcánica como la que se vivía en el Caribe a fines del siglo pasado. Me llevé una sorpresa porque me di cuenta de que, a diferencia de Madame Bovary, ese libro sí tiene grietas; está desgarrado en el sentido de que por un lado va la historia de amor y por otro toda la documentación de tipo social y político que él introduce. Flaubert no logró amalgamarlo. Lo importante es que me interesaba estudiar la estructura de la novela del siglo XIX para escribir una en el siglo XX con aquella misma linealidad, que es muy eficaz.


“Tener al lector agarrado por el cuello; no dejarlo pestañear”.

El Periodista, diciembre de 1985.


3. Un drama basado en la realidad

Fermina Daza, Florentino Ariza, Juvenal Urbino son personajes totalmente imaginarios, pero parte de su vida y muchos de sus actos son de personajes reales que he conocido. Por ejemplo, los amores de Florentino Ariza y Fermina Daza, tan desgraciados en los primeros años, son una copia literal, minuto a minuto, de los amores de mis padres. (…) Mi padre era el telegrafista del pueblo y mi madre era la chica bonita. Mis abuelos no eran ricos, pero era gente relativamente acomodada. Y, sobre todo, mi madre era la niña de sus ojos, porque era la única hija. El viaje en que los primos llevan en mula a Fermina Daza, y el modo en que ella recurre a los telegrafistas para comunicarse con Florentino Ariza, es muy exacto, y la región corresponde puntualmente al libro. Ahora, el carácter de Florentino Ariza y el carácter de Fermina Daza están adaptados por supuesto a la conveniencia del drama, pero, de todas maneras, tienen mucho de mis padres. De mi padre, Florentino Ariza tiene el haber sido telegrafista, tocar el violín, escribir versos más o menos clandestinos y enamorarse locamente. Y de mi madre, Fermina Daza tiene ese carácter fuerte, sobre todo ese sentido casi inconsciente del poder que tuvo siempre mi madre con sus doce hijos, y que siempre la hacía el centro de la autoridad.


“El barco donde estaba el paraíso”.

Nexos, diciembre de 1993.

4. Florentino Ariza, amante en un mundo irreal

Todo el concepto de amor de Florentino Ariza es idealizado en El amor en los tiempos del cólera. Tengo la impresión de que Florentino tenía un concepto del amor totalmente ideal, que no corresponde a la realidad. (…) Es un concepto literario tomado de los malos poetas. Creo que alguna vez dije que la mala poesía es muy importante porque solo puedes acceder a la buena poesía a través de la mala. Lo que quiero decir es que si le muestro a Valéry o a Rimbaud o a Whitman a un niño de un pequeño pueblo al que le guste la poesía, no le va a resonar. Así que, para llegar a estos poetas, primero tienes que hacer un viaje a través de toda la mala poesía de los más populares románticos, aquellos que Florentino leyó, como Julio Flórez, los románticos españoles, entre otros.


“Artes visuales, la poetización del espacio y la escritura: una entrevista con Gabriel García Márquez”.

Universidad de Colorado, octubre de 1987.


5. El susto del amor

Insisto mucho en mis novelas sobre el susto del amor. Me da la impresión de que la del amor es una sensación que va emparejada con la del susto, que hay ciertos momentos de pánico, no solo en la relación del noviazgo, sino también en la sexual. En la novela hay un personaje que es un seductor que siempre llega a la cama terriblemente asustado, como si fuera la primera vez. Y cada vez que cambia de pareja tiene el mismo susto y dice que siempre hay que volver a aprender como si fuera la primera vez.


“Tener al lector agarrado por el cuello; no dejarlo pestañear”.

El Periodista, diciembre de 1985.


6. Un personaje principal sin nombre

Pienso que Florentino Ariza es muy egoísta, como todos los hombres. Y en cuanto a Fermina, pienso que se volvió más burguesa de lo que creía. Eso la cambió y la volvió muy pretenciosa. Solo lo entendió cuando era muy vieja, cuando accedió a embarcarse. Para ello, tuvo que romper con toda su vida. Pero existe otro personaje importante, que no tiene nombre: es la sociedad del Caribe, sus prejuicios y supersticiones, sus costumbres anticuadas. Esto es lo que realmente conduce toda la historia.


“Mis años felices”.

The New York Times Book Review, abril de 1988.


7. La existencia innecesaria de la mamá de Fermina Daza

Mis personajes no mueren cuando lo deseo ni nacen cuando quiero. Una de las experiencias más emotivas que he tenido como escritor tiene que ver con todo esto. Pasó en El amor en los tiempos del cólera con la familia de Fermina Daza, cuando ella era una niña. Estaba creando su vida dentro de la casa donde vive con su padre y su tía solterona (…) Estaba trabajando en el primer borrador. Ya tenía a la niña, el padre, la tía y su mamá, pero su mamá siempre me pareció un personaje innecesario. Simplemente no sabía qué hacer con la madre. Cuando estaban en la mesa podía ver la cara del papá perfectamente, podía ver las caras de la niña y la tía perfectamente, pero la cara de la mamá siempre la vi borrosa. La hice de una forma y luego de otra, pero siempre era un problema y yo no sabía qué hacer. Ella estaba arruinando mi novela. La tía llevó a la niña al colegio. El padre casi nunca estaba en la casa. La sirvienta se hacía cargo de la casa. ¿Pero qué se suponía que debía hacer la madre? No tenía nada que hacer. Después, un día, mientras pensaba que estaba en un callejón sin salida, me di cuenta de que la mamá había muerto cuando la niña había nacido. Esta era la razón por la que la tía estaba allí; el padre la trajo a la casa para que criara a la niña cuando murió la madre. Y esta era la razón por la que la sirvienta se hacía cargo de casi todo en la casa. Era también la razón por la cual la madre no tenía nada que hacer. Así que ella siempre está presente en la casa y los personajes hablan de ella como alguien que ha muerto y que ha dejado una marca en su hija. Esto también explica por qué el padre está tan solo y tiene el tipo de personalidad que lo caracteriza. Resolví todo cuando dije: «Estoy equivocado. Estoy tratando de resucitar a una persona muerta. Esta mujer “murió”».


“Artes visuales, la poetización del espacio y la escritura: una entrevista con Gabriel García Márquez”. Universidad de Colorado, octubre de 1987.


8. El tiempo detenido de los latinoamericanos

Hay un personaje en la novela que celebra el cambio de siglo en un viaje en globo, una aventura muy peligrosa. Un periodista se acerca al personaje y le pregunta: «Si usted perece en esta aventura, ¿cuáles serían sus últimas palabras?». Y él responde: «Mis últimas palabras serían que creo que este siglo cambia para todo el mundo, menos para nosotros». A partir de esa declaración se establece algo así como una tesis, que trato de demostrar en la novela, y es que los latinoamericanos seguimos arrastrando el siglo XIX a través del siglo XX, sin disfrutar ninguna de las ventajas de este último.


“Tener al lector agarrado por el cuello; no dejarlo pestañear”.

El Periodista, diciembre de 1985.


9. Amores eternos

Este libro fue un placer. Hubiera podido ser más largo, pero tuve que medirlo. Hay tanto que decir sobre la vida de dos personas que se aman… Es algo infinito. Además, tenía la ventaja de conocer el final de antemano. Porque el final era un problema. Hubiera sido de mal gusto si uno o incluso ambos personajes hubieran muerto. Lo más maravilloso era que ambos pudiesen amarse para siempre. El lector puede consolarse al saber que el barco con los amantes continuará su viaje yendo y viniendo. No solamente por el resto de sus vidas, sino eternamente.


“Mis años felices”.

The New York Times Book Review, abril de 1988.


10. Barranquilla, Santa Marta y Cartagena: las ciudades escogidas

Es una ciudad imaginaria que tiene elementos de tres ciudades del Caribe colombiano: Barranquilla, Santa Marta y Cartagena de Indias, que están muy cerca unas de otras. El Caribe colombiano se parece más al Caribe venezolano y a todo el resto del Caribe que al resto de Colombia. Más que la geografía o la reconstitución histórica de la ciudad me interesaron las costumbres de la época en esa región precisa.


“Tener al lector agarrado por el cuello; no dejarlo pestañear”.

El Periodista, diciembre de 1985.



CURIOSIDADES


"O amor nos tempos do cólera é uma obra escrita na maturidade de Gabo, que tinha 57 anos quando o livro foi lançado, mas o autor já tinha tentado contar sua história em A Revoada (ou O enterro do diabo, como foi publicado no Brasil anteriormente), seu romance de estreia. Mais tarde deu-se por conta que, naquele momento, ainda lhe faltava “aprender muito sobre a arte de escrever” (relato de García Márquez em Viver Para Contar, de 2003).


O romance ganhou as telas e os palcos, sendo adaptado para o cinema na produção estadunidense e colombiana Love in the Time of Cholera (Mike Newell, 2007). O filme foi a primeira adaptação de um livro do autor produzida por um estúdio hollywoodiano. No teatro brasileiro, a obra inspirou a criação da peça Gardênia do grupo de teatro El Otro.

  • Você pode conferir mais sobre a vida e obra do autor no documentário Gabo: A Criação de Gabriel García Márquez, de 2015, disponível no Netflix;

  • Conheça La Gaboteca: espaço virtual da Biblioteca Nacional da Colômbia dedicado aos trabalhos do autor;

Você pode comprar o e-book da obra clicando nos links:



Como acompanhar a nossa ciranda com a leitura


Início do livro até o parágrafo:


“Só então descobriu que havia dormido muito sem morrer, soluçando no sono, e que enquanto dormia soluçando pensava mais em Florentino Ariza do que no marido morto.”

(Na Record, tradução de Antônio Callado, vai até a página 69)


Filme | O Amor nos Tempos do Cólera (Mike Newell) - Sequência 01


---


Convidada Especial | Léa Macedo


Léa Macedo flutua nas obras e na vida de Marc Chagall, associando suas imagens ao romance de Gabriel García Márquez - O Amor nos Tempos do Cólera.


Chagall | Um artista dedicado a retratar o amor


Talvez poucos artistas tenham tido o amor como tema tão central de suas obras como Marc Chagall. Inclusive ele tem muitas frases interessantes sobre como ele norteava sua obra:


“Só o amor me interessa, e eu estou apenas em contato com coisas que giram em torno do amor”;


“Nas artes, como na vida, tudo é possível desde que se baseie no amor”;


“Em nossa vida há uma única cor, como na paleta de um artista, que fornece o sentido da vida e da arte. É a cor do amor”.






Gabo e Chagall

Uma elegia ao amor.

por Ana Cristina Cunha

Ouça a Playlist, clicando aqui.


Exposição no CCBB | Marc Chagall: Sonho de Amor

Data: 08/02/23 a 22/05/23

Clique aqui para mais detalhes e ingressos.



A Casa Frida submersa na paleta da vida onde a cor é o amor.


Marc Chagall – “The Promenade” – 1918 - óleo sobre tela -

Em "The Promenade" Chagall expressa as alegrias de seu casamento com Bella. Ele sorri enquanto segura um pássaro em uma mão e Bella na outra. Bella sobe, como se fosse uma pipa no céu, ligada à terra apenas pela mão amorosa de Chagall. Um buquê apaixonado de flores vermelhas está a seus pés. Esta é uma das imagens que Chagall pintou durante uma visita à Bielorrússia, quando morava em Paris. Quando ele chegou, em 1914, a guerra eclodiu e ele não pode retornar. Em 1917, ele estava morando de volta em Vitebsk. Foi também o ano em que ele se envolveu com Bella. Voar celebra a alegria e êxtase de seu amor.


Marc Chagall, Sobre a cidade, 1914

Chagall gostava de criar obras que mostravam ele e sua esposa, Bella Rosenfeld Chagall. "Sobre a cidade" é uma celebração ao amor do casal que foi unificado pelo casamento.


A obra mostra o artista e sua esposa voando acima de Vitebsk, que é uma pequena cidade onde ele cresceu. Chagall está segurando sua esposa perto de si enquanto ela deixa uma mão aberta pelo ar. A mão esquerda do artista está suavemente pousada sobre o seio direito da esposa. Ao mesmo tempo em que parecem amantes, parecem também estar fugindo de algo já que a cabeça do artista está virada para traz como que verificando se alguma coisa os está seguindo.


A cor do amor nas obras de Gabriel e Chagall - Das amêndoas amargas aos casais flutuantes entre papagaios e vacas voadoras.


---


Quando?

18/05/23 - Ciranda de Leitura | EP.01


Roda de conversa on-line: das 19h30 às 21h

Onde?

Na sua casa através do aplicativo ZOOM - Baixar agora! - (Play Store) - (Apple Store)


---


Para participar, basta cadastrar o seu melhor e-mail em nosso site.

O link de acesso à sala ZOOM será enviado às 08h no dia do evento, além das atualizações das próximas rodas de conversa e cirandas de leitura.


Você também poderá obter o link através do nosso grupo no Telegram.




Siga a Confraria das Lagartixas nas redes sociais.






---


Perdeu alguma de nossas rodas de conversa? Assista as gravações em nosso canal no YouTube.




---


Em parceria com:





Apoio:










1.144 visualizações0 comentário

コメント


bottom of page